domingo, outubro 03, 2010

Os nós que terão de ser desatados para o país se desenvolver de fato

Os nós que terão de ser desatados para o país se desenvolver de fato
Pelo menos 75% dos brasileiros não dominam a leitura, a escrita e a matemática; e Brasil sofre com falta de mão de obra qualificada
Regina Alvarez e Vivian Oswald – O Globo
Para pôr o Brasil num novo patamar de desenvolvimento econômico e social, o presidente eleito terá que desatar os nós que ainda emperram o crescimento sustentado do país. Investir fortemente em educação, saúde e segurança, aprovar reformas essenciais no Congresso e resolver os gargalos na infraestrutura. Os problemas na área social, na economia e na política aparecem em estatísticas e análises de especialistas.
Alguns foram abordados na campanha eleitoral, mas de forma superficial. No governo, o próximo presidente terá que arregaçar as mangas e usar o capital político tirado das urnas, se quiser, de fato, colocar o país definitivamente nos trilhos do desenvolvimento.
Em 2009, segundo o IBGE, 29,3 milhões de brasileiros, ou 20,3% da população, eram analfabetos funcionais. Essas pessoas sabem escrever o próprio nome, mas não conseguem compreender o que leem.
Só 25% dos brasileiros dominam a escrita, a leitura e a matemática para se expressar e entender o que está à sua volta no contexto econômico e tecnológico atual. O dado, do Indicador de Analfabetismo Funcional 2009, produzido pelo Instituto Paulo Montenegro, é esclarecedor para entender os graves problemas de falta de mão de obra qualificada que o país terá de superar na busca pelo crescimento sustentado.
No topo da lista de reclamações da indústria brasileira, a falta de mão de obra qualificada é apontada pelo governo como o principal desafio a ser enfrentado para atender às demandas crescentes da economia.
Ainda de acordo com o IBGE, apenas 37,9% dos jovens, com idade entre 18 e 24 anos, tinham 11 de estudo, em 2009, o que torna difícil o cumprimento da exigência constitucional de ampliação do ensino obrigatório, de nove para 14 anos, a partir de 2016.
— Está claro que o problema da educação no Brasil, principalmente o analfabetismo, tem endereço e confirma a exclusão histórica brasileira. Para levar o país ao mesmo nível de países como Chile e Argentina, é preciso resolver o gargalo do analfabetismo e ampliar o ensino superior.
Na velocidade em que vamos, vai levar muito tempo — afirma o diretor de estudos sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão.
Analfabetismo é face da exclusão
Ele lembra que existem 50 milhões de vagas no ensino médio, o que não é trivial, mas considera ser preciso ampliar a educação básica e melhorar sua qualidade.
O problema mais grave, na visão de Abraão, é o analfabetismo entre adultos: — Significa que determinada faixa etária não teve acesso aos bancos escolares no momento adequado. Isso deveria ser tratado como uma preocupação nacional pelos três níveis de governo.
Outro desafio a ser enfrentado de imediato, na visão do cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília, é uma reforma administrativa para melhorar os sistemas de governança na educação e em outras áreas básicas, como a saúde.
— Há graves problemas de governança na educação, com uma prestação de serviços muito assimétrica por parte da União, estados e municípios — destaca Barreto.
Os gargalos emperram o desenvolvimento social e econômico do país. Na economia, geram prejuízos para as empresas, que perdem clientela e competitividade com os problemas da infraestrutura.
Para o presidente eleito da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, o bom momento que o país vive, com a economia em expansão, mostra que temos condições de chegar lá, desde que os gargalos sejam resolvidos.
Ele destaca que os investimentos em infraestrutura são de médio e longo prazo, mas precisam ser planejados e iniciados sem demora para atender às demandas crescentes de um país em ritmo acelerado de crescimento.
— A infraestrutura é ineficiente, os aeroportos não permitem que se tenha confiabilidade para fazer negócios. Tem que planejar e começar agora, não dá para ficar esperando — afirma.
Para viabilizar o crescimento forte e sustentado da economia, Andrade põe a desoneração das exportações e dos investimentos e a redução do custo do capital entre os desafios que precisam ser enfrentados de imediato pelo novo governo.
Ele acredita também que haverá condições de aprovar as reformas tributária, trabalhista e da Previdência.
— O presidente eleito iniciará o governo com muita força. A força do voto dará a legitimidade para negociar reformas. É o momento adequado. Se não forem feitas, estaremos condenados a uma taxa de crescimento e investimentos muito aquém das necessidades do país.
O cientista político Leonardo Barreto inclui a reforma política entre os desafios que o presidente eleito enfrentará para que o país atinja um novo patamar de desenvolvimento.
Regra atual facilita corrupção
As regras atuais, que permitem a proliferação de partidos, o voto em legendas e o financiamento das campanhas sem transparência, abrem espaço para a corrupção e o desvio de recursos públicos, dificultando a cobrança mais efetiva da sociedade sobre os políticos.
Barreto não prevê mudança radical nas regras, mas considera viáveis alterações pontuais: — De uma maneira geral, os políticos gostam do modelo. O que incomoda é o custo do processo eleitoral.
O cientista político acredita que existe uma chance de aprovar um teto para os gastos de campanha, já que a maioria dos congressistas sente-se prejudicada com o modelo atual.
— Ninguém deve esperar um pacotão. Serão mudanças pontuais, específicas — prevê.

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