domingo, outubro 03, 2010

Weslian Roriz: A mulher laranja

Weslian Roriz: A mulher laranja
Os adversários foram pegos de surpresa por sua candidatura ao governo do Distrito Federal, no lugar do marido. Ela também
Isabel Clemente – Revista ÉPOCA
FICHA EM BRANCO Weslian no debate na semana passada. Ela não sabia responder, mas manteve a pose
Brasília foi criada para apontar um novo rumo político para o Brasil – e ninguém pode reclamar da falta de inovações que a cidade é capaz de gerar. Infelizmente, não são o tipo de inovação que se esperava. Tome, por exemplo, a candidatura de Weslian Roriz. Na semana passada, a dona de casa de 67 anos estreou como candidata ao governo do Distrito Federal pelo PSC em um debate promovido pela TV Globo. Visivelmente despreparada, Weslian teve de ler respostas e chegou a dizer, numa gafe, que queria “defender toda aquela corrupção”. Weslian se tornou um hit em vídeos no YouTube e campeã de comentários no Twitter.
Weslian virou candidata um dia antes do debate. Ela é casada há 50 anos com Joaquim Domingos Roriz, quatro vezes governador do DF. Ameaçado pela Lei Ficha Limpa por ter renunciado ao Senado, em 2007, para escapar da cassação num processo por corrupção, Roriz lançou Weslian. Apostou que transferiria para ela os votos de seu fiel eleitorado, cultivado durante anos com a distribuição gratuita de lotes em áreas no Distrito Federal.
Não poderia haver alguém mais confiável para Roriz. De acordo com a biografia de Weslian, publicada assim que se tornou candidata, os dois se conheceram no casamento de uma prima de Roriz, quando tinham 23 anos (ele) e 17 (ela). Goianiense, Weslian havia acabado de se mudar com a família para Luziânia. Seu pai, criador de gado, foi o responsável por fazer o jardim do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República. Roriz e Weslian se casaram menos de um ano depois de se conhecerem, em 1960, e tiveram três filhas: Wesliane, Liliane e Jaqueline.
No debate, era possível notar que os adversários de Roriz foram pegos de surpresa. Preparados para enfrentá-lo duramente, Agnelo Queiroz (PT), Toninho (PSOL) e Eduardo Brandão (PV) não tiveram coragem de fazer o mesmo com Weslian. Empertigada, com voz trêmula e gaguejando, Weslian teve de enfrentar a si própria.
“Eu quero defender toda aquela corrupção”
WESLIAN RORIZ, candidata ao governo do Distrito Federal
“É violenta a forma como a família expôs essa mulher”, diz a cientista política Flávia Biroli, professora da Universidade de Brasília (UnB). “É desconcertante ter uma candidata incapaz de sustentar posições sobre qualquer tema.”
Os adversários não a pouparam por delicadeza. Ficaram com medo de que ela chorasse diante de perguntas duras e que a vitimização lhe rendesse votos. Foram tão cautelosos que quase se desculpavam por ter de questioná-la sobre corrupção. Nos bastidores do debate, reinava o constrangimento. O principal sentimento era de vergonha alheia. “Não dava nem para comemorar um gol em cima dela”, disse o assessor de um dos candidatos. “A performance dela foi triste, lamentável”, afirma o cientista político David Fleischer. “Virou a mulher laranja.”
Assessores de Roriz avaliaram que, para alguém tão inexperiente, Weslian não se saiu tão mal. Sobretudo porque abordou de supetão Agnelo Queiroz sobre um tema que vem dando dor de cabeça ao PT: o aborto. Católica praticante, Weslian perguntou se Agnelo era a favor do aborto – e fez isso quando deveria ter respondido a uma pergunta sobre transporte público. Surpreso, Agnelo só respondeu no bloco seguinte. Afirmou ser contra o aborto. Em outro momento, Weslian deveria fazer uma pergunta sobre gestão pública a Toninho (PSOL). Procurou a pergunta em meio a seus papéis, separados por marcadores coloridos. Quando achou que tinha a folha certa, fez a pergunta... sobre emprego.
BODAS DE OURO
Weslian e Roriz em campanha. Os dois são casados há 50 anos. Mas ela é novata em política
Weslian não é a primeira mulher usada pelo marido em disputas eleitorais. Para ficar apenas num exemplo recente, na Argentina, o presidente Néstor Kirchner lançou a candidatura da mulher, Cristina, para suceder-lhe – mas ela em pouco tempo provou que não é títere do marido. Com Weslian, Roriz corre pouco risco. Por isso procuradores do Ministério Público Eleitoral temem a proliferação de “laranjas eleitorais”.
Até a semana passada, Weslian só era conhecida pelos trabalhos sociais nos governos do marido. Um dos programas de maior visibilidade com que se envolveu foi o treinamento de cães-guia para cegos. Em 2005, um labrador treinado em Brasília foi usado na novela América, da TV Globo, para guiar o ator Marcos Frota, que fazia o papel de um cego. De certa forma, com sua candidatura, Weslian – e, por trás dela, Roriz – está agora apostando em outro tipo de cegueira.

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