sexta-feira, outubro 15, 2010

Debate mais claro

Debate mais claro
EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO
O segundo turno já contribui para o melhor conhecimento dos candidatos à Presidência, que todavia ainda se omitem sobre temas importantes
Decorridos 11 dias desde a realização do primeiro turno, parece difícil a alguém contestar seriamente a utilidade do segundo turno para a disputa em curso pela Presidência da República.
Com a nova etapa -exigida quando nenhum candidato obtém mais de 50% dos votos válidos- renova-se, para a sociedade, a ocasião de conhecer melhor as propostas, as prioridades e os estilos de cada candidato.
Ficam ambos, Dilma Rousseff e José Serra, mais expostos à controvérsia, o que é sempre salutar numa democracia e, mais ainda, quando a postulante favorita é figura pouco conhecida, que jamais havia disputado qualquer cargo eletivo antes de ter sido apontada pelo dedo do presidente Lula.
O primeiro debate do segundo turno a colocar frente a frente os adversários, realizado no último domingo, pela Rede Bandeirantes, resultou num grau de enfrentamento inédito entre Dilma e Serra, coisa que ambos, e sobretudo a petista, haviam tentado contornar ao longo da campanha. Em relação aos debates do primeiro turno, houve algum avanço.
É de lamentar, no entanto, que tais ocasiões de duelo político ainda sejam manietadas por regras que engessam o debate e impedem uma discussão mais aberta.
Há, em primeiro lugar, toda a parafernália dos marqueteiros, que busca monitorar os candidatos e as reações do público ao que dizem como se estivessem todos num laboratório, o que pasteuriza e não raro idiotiza a política.
Mas há, além disso, em todos os debates, restrições incabíveis à participação dos jornalistas, impedidos, por exemplo, por imposição das candidaturas, de fazer réplicas às questões que formulam depois de ouvir as respostas. É a sociedade quem perde com isso.
Estamos a pouco mais de duas semanas da eleição do futuro presidente e restam muitos pontos fundamentais para o país que não mereceram a devida atenção por parte de Dilma e de Serra.
Entre eles, o silêncio sintomático dos candidatos sobre temas espinhosos da macroeconomia talvez seja o mais preocupante.
Como escreveu ontem, em sua coluna, o jornalista Elio Gaspari, "o dólar está a R$ 1,66 e a palavra câmbio não foi pronunciada".
Enquanto os candidatos fingem ignorar a existência do problema, o deficit nas transações de bens e serviços com o exterior, provocado pela apreciação do real, continua a crescer. O que farão sobre isso Dilma e Serra? Ninguém sabe ao certo.
Espera-se que os próximos debates possam elucidar esse e outros aspectos, inclusive a respeito de promessas cuja viabilidade de execução não ficou clara. Serra precisaria explicar, por exemplo, como pretende elevar o salário mínimo para R$ 600 e aumentar em 10% as aposentadorias com valor superior ao mínimo sem, ao mesmo tempo, colocar em sério risco as contas públicas.
A Dilma, cuja campanha tem sido mais celebratória do que centrada em propostas factíveis, cumpriria esclarecer como executará em quatro anos a promessa de "erradicar a miséria", situação em que se encontram cerca de 21 milhões de brasileiros.

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