quarta-feira, outubro 06, 2010

Difícil decifrar eleitores de Marina

Difícil decifrar eleitores de Marina
Alessandra Duarte e Carolina Benevides - O Globo
Para especialistas, indicação da senadora pesa mais do que a do PV
Difícil de prever, esse eleitor de Marina Silva. Ao unir evangélicos em defesa da família com militantes ecologistas e homossexuais que querem se casar, o eleitorado de 19 milhões que a verde conquistou no primeiro turno terá de ser decifrado pelas campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), dizem cientistas políticos.
O candidato que esse eleitorado heterogêneo escolherá no segundo turno, afirmam analistas, vai depender mais da posição que a própria Marina tomará do que do candidato que o PV apoiará, pois a senadora sai desta eleição com maior força política do que seu partido.
Marina “é maior que o PV”, diz o cientista político José Murilo de Carvalho: — Do mesmo jeito que o Lula é maior que o PT. Na reta final da campanha, ela já estava dona do partido.
Marina “é maior que o PV”, diz o cientista político José Murilo de Carvalho: — Do mesmo jeito que o Lula é maior que o PT. Na reta final da campanha, ela já estava dona do partido.
— A votação que a Marina conseguiu extrapola o PV, que é pequeno — completa o cientista político Paulo Baía, da UFRJ, destacando que quem votou em Marina não o fez pelo PV: — Se ela ficar neutra e o PV apoiar Serra ou Dilma, isso não vai ter tanta influência. Agora, se ela se decidir por um dos dois, aí, sim, pode ser que isso pese para quem votou nela antes. O PV não sai com capital político desta eleição; quem sai é a Marina.
Eurico Figueiredo, cientista político da UFF, diz que o eleitor da verde “não é partidário”: — E você pode tirar isso pela expressividade que o PV tem na Câmara e no Senado.
Paulo Baía classifica o eleitorado verde de “difuso”: — É nebuloso, difuso, com uma revolta sem foco.
Um ponto em comum entre eles, porém, seria a questão ética e moral, diz Baía, demonstrada ao se ver em quais locais Marina teve melhor desempenho: — Ela foi primeiro lugar em Brasília, com um eleitor desencantado por corrupção recente (no governo Arruda, exDEM). Ficou em segundo lugar no Amapá, que também acaba de sair de uma crise política (o governador foi preso); e no Rio de Janeiro e em Pernambuco, onde há desencanto com a falta de oposição (Sérgio Cabral e Eduardo Campos foram reeleitos por ampla margem). Esse é um voto ético de protesto. Este segundo turno deve ser uma comparação de éticas e de moralidades.
Dentro desse eleitorado, porém, os evangélicos que escolheram Marina devem se dividir agora, continua Baía: — Os evangélicos são de 22% a 25% da população, mas não decidem eleição, porque se dividem ao votar. Quando a Marina defendeu o plebiscito para o aborto, a Assembleia de Deus apoiou a Dilma. E os boatos que lançaram contra a religiosidade da Dilma foram pela internet, sem o alcance de rádio e TV.
A historiadora do CPDoc da FGV Marly Silva Motta também não crê que o eleitorado de Marina no primeiro turno vote em bloco no segundo: — Os evangélicos podem até tender mais para o Serra, que tem mostrado a família na TV. Uma outra parte do eleitorado, a que votou na Marina porque repudiava a mesmice, essa está órfã. E os que sempre foram petistas e votaram na Marina, esses votam agora na Dilma.
— Quando Marina for conversar com Dilma e Serra, o mote será compromisso com o meio ambiente, pautado por metas.
Se ela fechar o apoio desse jeito, o eleitor ecológico migra para quem ela indicar — diz Marcelo Simas, do FGV Opinião.
Já quem votou em Marina “porque ela era novidade”, analisa Simas, deve migrar agora para Dilma: — Dilma é PT, que um dia foi da Marina.
Agora, o que migrou da Dilma para Marina por questões religiosas, esse não volta, porque não muda de ideia em um mês. E os que votaram na Marina só porque queriam fazer oposição, esses podem votar Serra, agora a única oposição.

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