quarta-feira, outubro 06, 2010
Do salto para a sandália
Do salto para a sandália
Com aliados, Lula diz que no 2º turno campanha de Dilma deve ter discurso 'paz e amor'
Cristiane Jungblut e Demétrio Weber BRASÍLIA – O Globo
Ciente do recado que governadores reeleitos deram, na véspera, à candidata Dilma Rousseff sobre erros cometidos no primeiro turno da campanha presidencial, o presidente Lula abriu ontem a reunião com governadores, senadores e deputados aliados afirmando que a campanha do segundo turno exige um “freio de arrumação” e reconheceu que radicalizou o discurso em alguns estados, como Pernambuco, Minas e Santa Catarina. No encontro, Lula e os governadores avaliaram que a campanha governista foi vítima do chamado “salto alto” e que agora é preciso ter “humildade”, inclusive para tentar se aproximar da candidata derrotada do PV Marina Silva.
O próprio Lula aceitou a sugestão de abandonar a radicalização e retomar o estilo “Lulinha paz e amor”. Para os aliados, o discurso do presidente na reunião foi de alguém que compreendeu que houve erros e que é preciso corrigilos. Os aliados também disseram a Lula que a candidata tem que ir mais para as ruas, chegar mais perto do povo.
— Em alguns estados, fui duro, forcei o discurso — disse Lula, segundo relatos, ao explicar que precisava garantir a eleição de bancadas aliadas a seu governo, mas que agora é outra fase.
“Uma certa lição” do eleitorado
Depois de participar de parte das várias reuniões de ontem do comando da campanha de Dilma, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), fez elogios ao desempenho da candidata, mas aproveitou para reproduzir o sentimento de todos depois da decepção com a não vitória no primeiro turno: — A gente tem que ganhar a eleição.
É jogar o salto alto e a blindagem em torno da candidata na lata do lixo. Agora, é usar sandálias Havaianas — disse Eduardo Alves.
Na reunião do Palácio da Alvorada, além dos novos rumos na campanha, a ordem de Lula foi para todos se mobillizarem num trabalho em busca do eleitorado de Marina.
Ou seja, priorizar a conquista dos eleitores e não da candidata verde.
Pela estratégia desenhada, Lula só entrará em ação se houver chance de Marina formalizar apoio. Mas a avaliação interna é que Marina não dará apoio formal a Dilma, pelos problemas que as duas tiveram quando foram ministras.
Já na noite anterior, a própria Dilma recebeu avaliação de aliados como os governadores Eduardo Campos (PE) e Sérgio Cabral (RJ), além do senador eleitor Roberto Requião (PR) e do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), de que, no primeiro turno, o comando da campanha ouviu pouco os aliados e que Lula tinha exagerado em críticas à imprensa, por exemplo. Segundo um interlocutor, Lula já chegou à reunião com o discurso digerido e incorporado.
Como porta-voz do grupo, o governador Eduardo Campos (PSB), disse que os votos dados à candidata Marina Silva foram “uma certa lição” do eleitorado: — O Brasil vai ter neste segundo turno um Lula mais paz e amor, vocês vão ver. O que temos que fazer agora é conversar com os eleitores de Marina, porque muitos (eleitores) entenderam que era preciso dar uma certa lição e não nos dar a vitória em primeiro turno. Muitos até com quem eu conversei disseram que têm até um arrependimento, porque viabilizaram o segundo turno.
O governador reclamou que houve uma campanha “fascista” contra Dilma devido às suas posições em relação ao aborto, por exemplo. O segundo turno servirá, segundo ele, para reverter o mal-entendido.
— Houve uma campanha que lembrava o século XIX, com calúnias.
Uma campanha fascista contra Dilma — disse Campos.
Em relação a Marina Silva, o governador pernambucano foi cauteloso e disse que o diálogo com Marina deve ser respeitoso: — Marina é uma brasileira que todos respeitamos muito. Trabalhou conosco (no governo) durante seis anos, mas o diálogo deve ser respeitoso.
Depois de um longo mal-estar com o presidente Lula e com Dilma, que perdurou durante todo o primeiro turno da campanha eleitoral, Ciro Gomes voltou à cena política nacional para tentar derrotar seu maior desafeto, o candidato tucano José Serra. Antes de ser anunciado por Dilma como mais um coordenador do restrito grupo de comando de sua campanha, Ciro saiu da reunião no Palácio da Alvorada garantindo empenho na campanha de Dilma, mas sem dispensar fartos elogios a Marina Silva: — O eleitor dela (Marina) sabe que infelizmente no segundo turno a gente tem que escolher aquilo que é melhor para o país. Não importa a nossa simpatia — afirmou Ciro. — Eu dou um palpite: acho que a Marina vai se afirmar neutra. E acho que o PV vai ser cooptado pelo Serra, porque a burocracia do PV já é controlada pelo Serra há algum tempo.
O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que “todos”, inclusive Lula, poderão conversar com Marina: — A coordenação de campanha está pensando a estratégia de conversar com a Marina. Todos. Vamos conversar com a companheira Marina, e não só com ela, mas com os partidos e o conjunto de associações que a apoiaram — disse Padilha.
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