quarta-feira, outubro 06, 2010
Recordar é viver: eleição
Recordar é viver: eleição
VINICIUS TORRES FREIRE – Folha de São Paulo
Marina e aborto adiaram resultado? Pode ser, mas convém lembrar palpites mais antigos desta eleição.
O QUE sabemos sobre a cabeça do eleitor? Alguma coisa, no que diz respeito a grandes temas e a grandes fatores de determinação do voto. É possível descobrir para onde o vento sopra, mas não somos capazes de dizer se o efeito será de um movimento de folhas ou de queda de um tronco. Por vezes, algumas brisas localizadas, outras nem sentidas, acabam fazendo história. Outras vezes, vemos tempestade em dia de céu azul.
Consideremos alguns temas que ocuparam a história dos debates & palpites sobre o futuro da eleição presidencial de 2010.
Em julho do ano passado, se desvanecia a discussão do impacto da doença de Dilma Rousseff (PT) sobre sua candidatura e suas perspectivas eleitorais, doença que um dia pareceu tão importante. Em agosto, discutia-se o "escândalo da Receita", versão Lina Vieira. Como se recorda (ou não?), essa ex-secretária da Receita dizia ter conversado com Dilma a respeito da tramitação de assuntos relativos aos Sarney. O caso foi para o arquivo morto.
Ainda em agosto, aparecia Marina Silva. Publicava-se o seguinte nesta coluna:
"A emergente Marina Silva é, por ora, o risco mais importante para o projeto luliano. Quão importante?
Marina não é bem um acaso. Pode ser o rosto da única militância política "autêntica" destes dias, a ambiental. Por isso foi expelida do organismo petista-lulista, tão cedo apodrecido por um pragmatismo rastaquera, quando não corrupto. Por isso Marina terá um fatia do eleitorado organicamente ideológico, "cabeça", "purista", de "protesto", jovem ou desencantado com nomes velhos. Como se diz, seria em 2010 algo do que Heloísa Helena foi em 2006, uma Heloísa banhada em catarata de chá verde com camomila".
Neste ano veio o "escândalo da Receita", versão dois, a história das quebras de sigilo. Não teve impacto eleitoral esperado. O assunto começa a cair no esquecimento.
O caso da parentela de Erenice Guerra parece ter causado efeito de fato, ao menos segundo dados por enquanto disponíveis (pesquisas de intenção de voto, pesquisas qualitativas e o resultado das urnas).
Mas foi uma surpresa a mudança importante e recente do voto dos eleitores evangélicos, que desistiram de votar em Dilma numa proporção maior do que os de outras crenças. Diz-se que o determinante da rejeição à candidata petista teria sido a associação de Dilma a uma opinião pró-aborto.
É uma hipótese razoável, embora os números não permitam dizer que essa migração do voto evangélico tenha sido fator determinante, por si só, a impedir a eleição de Dilma no primeiro turno.
Agora, há um zum-zum-zum sobre o efeito da abstenção do eleitorado no Nordeste, maior do que em 2006 e maior do que no Sudeste e no Sul na eleição deste ano. Como Dilma, segundo urnas e pesquisas, teria fatia maior de votos no Nordeste, a hipótese é razoável. Se o eleitorado do Nordeste não tivesse faltado tanto como em 2006, "tudo o mais constante", Dilma teria votos a mais. Mas não o bastante para vencer no primeiro turno.
O fato mais relevante, óbvio, é que Dilma precisa de apenas 16% do eleitorado de Marina Silva (PV) para ser presidenta, caso preserve a votação do primeiro turno.
Quem é esse eleitor de Marina?
vinit@uol.com.br
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