quarta-feira, outubro 06, 2010
Segurança e transporte: cidades felizes
Segurança e transporte: cidades felizes
Marcus Quintella – JORNAL DO BRASIL
As estatísticas e os fatos revelam que a maioria do povo brasileiro carece, cada vez mais, de ser atendido em suas necessidades humanas básicas, tais como saúde, educação, habitação, saneamento básico, nutrição, segurança pública e transporte público, sendo que as deficiências no atendimento dessas duas últimas questões vêm atormentando, desgraçando e limitando, em grande escala, a vida dos habitantes de nossas médias e grandes cidades, desde o final do século passado.
Nos dias de hoje, eu excluiria a segurança pública e o transporte público do rol das necessidades humanas básicas e passaria a considerar esses itens como pré-requisitos para que as demais necessidades possam ser alcançadas ou oferecidas. Dessa forma, o binômio segurança pública- transporte público seria o alicerce para a construção de cidades humanas e socialmente justas, visto que esses dois serviços públicos são os únicos que participam e afetam cotidianamente as vidas de todos os cidadãos, independentemente de raça, credo, idade ou posição social.
Defendo a tese de que uma sociedade que não dispõe de uma segurança pública confiável, justa e eficaz e de um transporte público abrangente, integrado e competente não poderá proporcionar bem-estar e felicidade para todos os seus membros, pois também não será capaz de oferecer a seu povo benefícios como hospitais, escolas, redes de água e esgoto e alimentos.
Como exemplo, vou citar duas cidades sul-americanas, Buenos Aires e Santiago do Chile, que, apesar de serem consideradas cidades de grande porte, com os mesmos problemas sociais das cidades brasileiras, seus cidadãos usufruem de uma tranquilidade quase provinciana e bucólica, vivendo seguros e tendo à disposição um eficiente transporte público, baseados em trens, metrôs e ônibus.
A vida corre mais fácil, menos estressante e mais proveitosa, uma vez que a mobilidade urbana e a segurança estão garantidas. No caso das grandes cidades europeias, onde sempre há segurança pública e transporte de qualidade, as pessoas são mais afortunadas em suas vidas urbanas, pois podem passear pelas vias públicas a qualquer hora do dia e da noite, assim como os turistas, com poucas chances de serem assaltadas ou sofrerem violências e com seus deslocamentos garantidos, pois o transporte está disponível o tempo todo, seja por meio de ônibus, bonde, metrô ou trem.
Penso que segurança pública e transporte público, em nosso país, deveriam ser serviços onipresentes e despercebidos pela população, ou seja, deveriam simplesmente existir, como obrigação do Estado, prontos para serem usados quando necessário. Desta forma, as pessoas poderiam programar suas vidas, seus passeios, seus trabalhos e suas compras, da maneira que melhor lhes conviesse, pois teriam a certeza que haveria o transporte para levá-las e trazê-las de volta, e que as ruas não seriam palco de assaltos e agressões.
Caro leitor, minha tese é simples: no Brasil, qualquer política pública de atendimento das necessidades humanas básicas, de erradicação da pobreza e de incentivo ao crescimento econômico e social somente poderá ser bem sucedida se estiver fundamentada no binômio segurança pública- transporte público.
Esse binômio é bom para todo mundo, inclusive para seus mantenedores políticos. Logicamente, as demais necessidades básicas devem ser trabalhadas concomitantemente, mas com a certeza de acessibilidade e segurança da população.
Com segurança pública e transporte público, os investimentos privados certamente terão menos riscos e maiores expectativas de lucro, o turismo poderá recrudescer e o comércio renascerá, entre outros benefícios econômicos.
Isso, sim, é qualidade de vida autossustentável.
Por fim, segurança pública e transporte público são investimentos de grande monta, de longo prazo, mas com retornos sociais, econômicos, políticos e humanísticos garantidos. São questões que não podem ser contornadas com ações empíricas, paliativas ou maquiagens políticas, haja vista que os fracassos sempre resultam em perdas de vidas humanas. Os governos fluminense e paulista já perceberam que as duas maiores metrópoles do país nunca terão qualidade de vida sem segurança e transporte, e, por isso, estão investindo fortemente nesses setores.
A resposta da população foi imediata e incontestável, principalmente no Rio de Janeiro. A sociedade agradece e roga aos governantes, atuais e futuros, que não esmoreçam e mantenham a situação permanentemente sob o controle do Estado e da lei.
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