quarta-feira, outubro 06, 2010

Nova oportunidade

Nova oportunidade
EDITORIAL: FOLHA DE SÃO PAULO
Eleitor frustra expectativa de triunfo aclamatório do PT, contempla Marina Silva e dá chance a um debate político mais franco e esclarecedor
Na noite de domingo, as aparições públicas dos três principais postulantes à Presidência da República deixaram patente o sentimento que predominava em suas respectivas campanhas pouco depois da apuração dos votos.
Embora conseguisse substancial vantagem sobre seu maior oponente, a petista Dilma Rousseff e seus aliados ofereceram às câmeras a imagem irretocável da frustração. A expectativa da vitória no primeiro turno, que pareceu certa e até acachapante há algumas semanas, não se confirmou.
Já se sabia da reorientação de parte do eleitorado, depois dos escândalos revelados pela imprensa, mas o declínio da petista chegou a ultrapassar a margem de erro no Datafolha, o instituto de pesquisa que mais se aproximou do resultado do pleito presidencial.
Foi eloquente, a propósito, o quieto abatimento do presidente Lula, após sua exaltada e onipresente participação como cabo eleitoral da candidata.
Por sua vez, Marina Silva, a grande contemplada pela migração de votos, apresentou-se com o sorriso da vitória a transbordar do rosto. De todos os que nas últimas eleições tentaram assumir o papel de terceira via, foi Marina, sem dúvida, a mais bem sucedida.
A líder ambientalista atraiu os votos de ex-eleitores petistas, insatisfeitos com a corrosão ética do atual governo; conquistou a simpatia de jovens, artistas e intelectuais interessados na agenda verde; e contou com a adesão de mulheres e religiosos conservadores, apreensivos com a ambiguidade dos adversários diante de temas como a legalização do aborto.
Foi ela o fenômeno eleitoral do primeiro turno. Neófita em disputas para o Executivo, liderou uma coligação inexpressiva, relativamente modesta em recursos, com ínfima presença no horário eleitoral gratuito. Ao merecer 19,3% dos votos, ganhou importância no desenlace do segundo turno e tornou-se mais do que uma simples promessa para 2014.
Com efeito, é para a próxima eleição que a ex-ministra e seu grupo político estão olhando -e essa perspectiva poderá afastá-los de compromisso mais estreito com qualquer um dos lados.
O tucano José Serra, por fim, mostrou-se exultante por ver renascer a oportunidade de travar uma disputa mais aberta e equilibrada com sua rival -chance que há pouco parecia se esvair numa campanha vista com reservas pelos próprios correligionários.
As vitórias que o eleitor concedeu ao PSDB em Estados estratégicos como São Paulo e Minas Gerais -e ao Democratas em Santa Catarina, onde Lula pregou sua extinção- servem de novo alento aos oposicionistas.
Dilma Rousseff continua, sem dúvida, como favorita. Mas não terá a mesma facilidade de se esconder à sombra de Lula e furtar-se ao confronto de ideias com seu concorrente direto.
Ao chancelar o segundo turno, o eleitorado demonstrou não ter suficiente convicção para conceder à pouco conhecida candidata lulista um triunfo aclamatório. Conclamou os dois candidatos a limpar a maquiagem do marketing e propor à jovem democracia brasileira uma discussão mais séria e madura.

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