quarta-feira, outubro 06, 2010

Objetos da marquetagem

Objetos da marquetagem
JANIO DE FREITAS – Folha de São Paulo
Hoje o que Serra e Dilma podem fazer para o 2º turno é um programa de alma e corpo marqueteiro
DILMA ROUSSEFF e José Serra não estão preparados para atender à expectativa de que o segundo turno os leve a expor, afinal, as ideias convincentes e programas de governo que não apresentaram no longo primeiro turno. Nenhum dos dois tem programa.
O trabalhoso levantamento de hipóteses de ação, selecioná-las e depurá-las para que se coordenem com coerência, e viabilidade admissível pela opinião pública, é contrário à lógica adotada pelas duas candidaturas.
A exigida apresentação de programas à Justiça Eleitoral foi cumprida pelos dois candidatos com igual descaso. Serra entregou dois discursos, fazendo-os passar por plano de governo. Dilma rubricou um documento de pretensões do PT, e só quando descoberta aí a proposta de um conselho de imprensa, ou coisa que o valha, soube do teor e da remessa dos itens à Justiça Eleitoral como seu programa.
A lógica adotada pelos dois foi a mesma: a cooptação de eleitores pelas simplórias, mas nem por isso ineficientes, técnicas de marquetagem. Ocorre que, entre programas de governo e marquetagem eleitoral, nada há em comum. O propósito desse gênero de marquetagem é "vender o produto" aos eleitores, ou mercado eleitoral, independentemente de suas qualidades e defeitos, passado e intenções, conceito e conceitos. A marquetagem eleitoral trabalha aparências. Em busca de identificações, tanto faz se reais ou ilusórias. Daí que o marqueteiro de X contra Y seja amanhã de Y contra X. A condição única para a marquetagem eleitoral é o tamanho do cofre à sua disposição e a de seu próprio cofre.
Serra respondeu às cobranças de programa com a afirmação de que o apresentaria mais perto da votação. Dilma e dirigentes do PT disseram, uns, estar o programa em elaboração e, outros e a candidata, que seria apresentado "na oportunidade adequada". Deixaram, porém, as evidências de que nada fizeram para tais afirmações.
Se tivesse ao menos algum rascunho de programa, Serra não precisaria dizer, como fez no debate da Globo e em tantas ocasiões, sandices do tipo "vou construir metrô em todos os Estados". Nem Dilma diria que vai "acabar com a miséria", tão sabedora de que as prolíficas e variadas estatísticas de ascensão socioeconômica, nos últimos anos, são mais do que exageradas.
Hoje, o que os dois podem fazer para o segundo turno é um programa de alma e corpo marqueteiro: uma aparência de programa. Ou nem isso, para outra linha de expectativa quanto ao desempenho dos dois. O segundo turno, nessa previsão, será uma artilharia feroz, uma luta de destruição pessoal para ser destruição eleitoral. Como ficou demonstrado nos ensaios durante o primeiro turno, tática a que José Serra é muito mais afeito, por vocação e por experiência, do que Dilma Rousseff. É tempo ainda de dizer, a propósito, que no primeiro turno Dilma portou-se muito bem, assim como Marina Silva, no controle das razões que até tiveram motivos bastante para serem outras.
Está noticiado que dirigentes do PSDB e do DEM criticam e querem mudar a maneira fechada como Serra e seu marqueteiro, Luiz Gonzalez, fizeram a campanha. Mas nenhum colegiado combina bem com Serra. Dilma, por sua vez, esteve sob a orientação de Lula e a manipulação de seu marqueteiro, João Santana (com bastante êxito no programa eleitoral gratuito), e a tendência é continunismo, sua especialidade, também aí.
Seja como for, Marina Silva equivoca-se: "Eu dizia que ia quebrar o plebiscito. Essa idéia [a dela] está vitoriosa". Mas a disputa plebiscitária esteve sempre no primeiro turno. E no segundo turno não é outra coisa. Homenageada por 20 milhões de votos, Marina Silva a criou.

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