quinta-feira, outubro 07, 2010

INSEGURANÇA PÚBLICA Uma polícia, três maneiras de agir

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Uma polícia, três maneiras de agir
Jorge Antonio Barros – O Globo
A primeira página do jornal "Extra" resume bem a trágica morte do menino Matheus Peres Viana, de 12 anos, que morreu baleado ontem à tarde, no Morro da Mangueira. Diz a manchete dupla: "No asfalto, polícia some e não vê arrastões"; "No morro, polícia aparece e menino é morto em ação". O pai do menino, Ricardo Viana, garante que não havia tiroteio entre policiais e bandidos, quando Matheus foi atingido. Ele pode ter sido alvo de uma saraiva de tiros dos traficantes do morro comandado por Polegar - que segundo informes é um dos traficantes perigosos que está no Complexo do Alemão, enquanto não chega lá a UPP tão prometida pelo governo do estado. Os bandidos da Mangueira reagiram à aproximação de policiais civis que foram até lá com o objetivo de recuperar dois carros roubados durnate os arrastões ocorridos no elevado da Paulo de Frotin, o acesso ao túnel mais importante do Rio, o Rebouças, que liga às Zonas Norte e Sul da cidade.
Se a polícia não conseguir controlar a nova onda de arrastões, a liberdade de ir e vir entre as duas partes do Rio estará completamente ameaçada, ressuscitando assim o conceito de Cidade Partida, criado pelo jornalista e escritor Zuenir Ventura, autor do livro homônimo, que mostrava duas faces de uma mesma cidade - a da favela e a do asfalto. A morte do menino Matheus é reflexo de uma política de segurança em que as polícias têm duas maneiras de agir, aliás três: no asfalto ela é ineficiente; nas favelas com UPPs ela é civilizada e de primeiro mundo; e nas outras favelas ainda dominadas pelo tráfico, ela é de terceiro mundo, e sua única "estratégia" é a da política de confronto, que é aprovada apenas pelos moradores que vivem bem longe daquelas áreas.
Reeleito com 66% dos votos válidos, também por sua performance na área de segurança, o governador Sérgio Cabral anunciou que iria se dedicar à campanha de Dilma Roussef para a presidência da República, mas com certeza terá mais o que fazer. Ele já percebeu que a crise provocada pelos arrastões é grave, e determinou ao secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, nova dança das cadeiras nos comandos de batalhões da Polícia Militar. O boletim da PM publica hoje as trocas de comando, sobretudo em áreas da Zona Sul. O comandante da PM, coronel Mário Sérgio, prefere entender como oxigenação nos comandos. Independentemente de qualquer orquestração que esteja por trás dos arrastões, os assaltos a transeuntes têm sido uma pedra no tropeço das políticas de segurança do estado, apesar de terem sido reduzidos este ano. O governo do estado tem uma política de pacificação de favelas bem-sucedida onde foi implantada - em apenas 12  das mil favelas da cidade - mas falta-lhe uma política eficaz de policiamento. Nas  comunidades onde há UPPs sabe-se que a situação foi controlada, mas o mesmo não ocorreu no asfalto, especialmente nas Zonas Norte e Oeste da cidade.
Para completar o quadro de falta de luz no fim do túnel, o presidente Lula aparece hoje no Rio e, com a intenção de elogiar as UPPs, conta uma cascata que só prejudica o governo do Rio.
- O Rio de Janeiro não aparece mais nas primeiras páginas dos jornais pela bandidagem. O governo fez da favela do Rio um lugar de paz. Antes, o povo tinha medo da polícia, que só subia para bater. Agora a polícia bate em quem tem que bater, e protege o cidadão, leva cultura, educação e decência - disse Lula (saiba mais aqui).
Não esperaria outra declaração de Lula, que não deve sequer folhear a sinopse dos jornais enviada diariamente por seus assessores. Acreditem, ler o jornal antes de sair de casa sempre ajuda.

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