quinta-feira, outubro 07, 2010

O novo ciclo de desenvolvimento

O novo ciclo de desenvolvimento
HUSSEIN ALI KALOUT - O Globo
 O ciclo virtuoso por que passa o Brasil exige nova estratégia de inserção no comércio global. Após décadas de ajuste macroeconômico, a sustentação do crescimento exigirá a expansão dos investimentos, o aumento da competitividade e a desobstrução de gargalos, principalmente no setor de energia e infraestrutura.
O processo envolve a construção e o aprofundamento do relacionamento com parceiros internacionais.
A polaridade mundial se reorganiza, e o planejamento no front externo terá de compreender a reorientação da economia internacional.
Prognósticos indicam que os países desenvolvidos continuarão a ter fraco desempenho econômico nos próximos anos. Enquanto isso, o polo dinâmico se transfere para países emergentes, com destaque para os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). A China, já a segunda maior economia do mundo, cresce em ritmo acelerado e deve superar os EUA em duas décadas.
No plano das negociações comerciais, nossa política comercial se confrontou com o emperramento das negociações no âmbito da rodada Doha, com as dificuldades de avançar nos acordos junto à União Europeia e com o Mercosul à deriva. A crise econômica nos países desenvolvidos adiou os planos de integração do comércio internacional.
Entretanto, não cabe desistir, principalmente as economias como a brasileira, que dependerão de capacidade de buscar oportunidades no mercado externo e de atrair investimentos para manter o ritmo de desenvolvimento.
Um dos grandes desafios do Brasil é expandir as exportações e o volume de comércio com o exterior. Nossa participação no comércio internacional permanece ao redor de 1%. Na década de 50 chegou a ser duas vezes maior. Há boas perspectivas em diversos setores, com destaque para as commodities minerais e agrícolas. Esse processo se desdobrará em cooperação e integração com multinacionais estrangeiras e no aprofundamento da internacionalização de empresas brasileiras.
A consultoria PriceWaterCoopers prevê investimentos de US$ 62 bilhões nos próximos cinco anos no setor de mineração, como o de extração de minério de ferro, bauxita e cobre. A exploração do petróleo da camada pré-sal significará investimentos da ordem de R$ 80 bilhões até 2020, segundo o BNDES — o que exigirá capitais nacionais e estrangeiros, evidenciados na recente capitalização da Petrobras e em acordos de cooperação e empréstimo da estatal brasileira com a China Petroleum and Chemical Corporation (Sinopec), a empresa petrolífera chinesa.
 A China definitivamente descobriu o Brasil. Entre 2001 e 2009, os investimentos chineses no Brasil permaneceram tímidos, somando apenas US$ 215 milhões no período. Em 2010, o interesse dos chineses no Brasil saltou para a casa dos US$ 12 bilhões, de acordo com números da Câmara de Comércio Brasil China, e deverá continuar significativo.
Os chineses buscam principalmente petróleo, energia, mineração e siderurgia, necessários para alimentar seu vigoroso crescimento.
Nesse processo, o comércio entre os dois países quadruplicou nos últimos 5 anos, alcançando US$ 39 bilhões em 2009. A aproximação trará desafios e enormes oportunidades de ganho econômico.
A competitividade chinesa impressiona os competidores, especialmente no setor de manufaturados. Mas não devemos ter receio da concorrência e sim nos preparar para enfrentá-la. O investimento em educação e capacitação da mão de obra nos próximos anos é fundamental, aliado ao aperfeiçoamento do sistema tributário, para que possamos aumentar a produtividade e nos tornarmos cada vez mais competitivos.
O crescimento significará elevação da demanda por energia, proveniente de uma matriz cada vez mais heterogênea, combinando as tradicionais fontes com novas alternativas, como as renováveis, com crescente espaço no mercado mundial. A produção de etanol no Brasil, por exemplo, será ampliada de 26 bilhões de litros/ano para 64 bilhões em 2019, estima o Ministério de Minas e Energia. Nessa escala, é possível vislumbrar um excedente exportador que demandará prospecção de mercados no exterior para o etanol brasileiro.
Esse cenário será liderado por empresas nacionais que se tornam global players relevantes. Observamos exemplos de sucesso, como a construtora Odebrecht e a multinacional de bebidas Anheuser Busch Inbev — seus principais controladores brasileiros recentemente adquiriram o controle da rede americana de hambúrgueres Burger King e as parcerias do Grupo EBX com investidores estrangeiros. Com a pujança da economia brasileira, a tendência é de mais nomes no horizonte.
HUSSEIN ALI KALOUT é cientista político.

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