sábado, outubro 16, 2010

Bem antes da última curva

Nas entrelinhas
Bem antes da última curva
Alon Feuerwerker – Correio Braziliense
Agora é cabeça a cabeça, freio nos dentes, rumo ao disco final. Mas ainda não estamos na reta de chegada. Há ainda algumas variáveis a observar
Vem aí mais um debate entre os candidatos a presidente. Em seguida comparecerá a pergunta inevitável: "Quem ganhou o debate?". Sites farão pesquisas online (com a obrigatória advertência de que os resultados não valem nada). Spin doctors de ambas as campanhas inundarão os ouvidos dos jornalistas com impressões maravilhosas colhidas nos grupos qualitativos. Institutos de pesquisas quantitativas divulgarão resultados sobre o embate.
O problema é que "ganhar os debates" e "ganhar a eleição" podem, no fim das contas, revelar-se coisas bastante diferentes.
A corrida leva jeito de vir a ser definida por um contingente de no máximo 10 milhões de eleitores, talvez metade disso. Se o candidato for superbem no debate para os demais 125 milhões, mas muito mal no grupo em disputa, estará frito.
Claro que é só uma hipótese matemática, bastante improvável. Mas serve para ilustrar.
O grande desafio neste momento da corrida é identificar o eleitor flutuante e encontrar uma maneira de dialogar com ele.
Para o PT a linha parece desenhada. Na busca do punhado de votos que faltaram a Dilma Rousseff no primeiro turno, mais fácil seria recolhê-los entre quem é de esquerda, não votou na candidata de Luiz Inácio Lula da Silva, mas quer votar contra o PSDB. Daí a ênfase nas privatizações.
Para o PSDB, trata-se, desde o começo da corrida, de trazer para José Serra um monte de gente que gosta de Lula e do governo, mas sente mais segurança na capacidade realizadora do candidato tucano. Ou não gosta do PT.
A missão da marquetagem tucana é bem menos trivial, e ela conseguiu atravessar os primeiros dois corredores poloneses: levou o candidato ao segundo turno e, pelo menos até agora, evitou que esta nova fase, decisiva, abrisse com o alargamento da vantagem de Dilma.
Agora é cabeça a cabeça, freio nos dentes, rumo ao disco final. Mas ainda não estamos na reta de chegada, nem ao menos na última curva. Há ainda algumas variáveis a observar.
Como funcionarão os acordos políticos nos estados, especialmente nos grandes estoques de voto do Sudeste?
No Rio de Janeiro as forças serristas estão bem debilitadas pela séria derrota no primeiro turno, e será preciso ver para onde irão os eleitores de Marina Silva. Mas o enigma maior encontra-se em São Paulo e Minas Gerais.
Nos dois estados será preciso verificar o efeito prático dos novos cenários políticos. Se no Rio a eleição de Sérgio Cabral no primeiro turno era óbvia, em São Paulo e Minas Lula investiu tudo para quebrar a hegemonia tucana. Não conseguiu.
Os polos políticos dos Bandeirantes e da Liberdade saíram reforçados da batalha inicial, e agora operam as naturais forças centrípetas. Vai funcionar?
Se funcionar, Serra terá a oportunidade não apenas de atrair votos dados a Marina Silva, mas de sangrar a caixa d’água da candidata do PT. Se não, a reta final estará aberta para o PT.
Instabilidade
O resumo das eleições nos estados: a coligação apoiada por Lula ganhou onde ganharia sem o apoio do presidente e perdeu nos lugares-chave onde sua excelência imaginou jogar o papel decisivo.
Há certas coisas permanentes na política brasileira. Uma é a política de governadores, que vem, bem ou mal, desde a República Velha.
O presidente não se mete a jogar papel decisivo nas disputas regionais e os governadores, em último caso, apoiam o presidente da República. Mesmo quando fingem não apoiar.
Até nos períodos de maior centralização essa regra jogou seu papel.
Lula tentou romper a lógica e perdeu. Uma parte da radicalização política no segundo turno nasce daí.

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