sábado, outubro 16, 2010

A mídia premiada

A mídia premiada
Zuenir Ventura - Folha de São Paulo
Uma das críticas que se faz ao jornalismo atual — vamos ficar apenas nessa — atribui a ele incompetência ou preguiça em esgotar ou mesmo aprofundar os assuntos tratados. Entre leitores mais velhos e até entre profissionais jovens há a crença de que antigamente, na minha época, digamos, as reportagens eram mais completas e melhores. Hoje, com o advento das novas tecnologias de comunicação e a aceleração do tempo, muitos acreditam que não há mais lugar para as matérias grandes. Nem os leitores teriam mais paciência de lê-las e nem os jornalistas, de escrevê-las. Exagerando, pode-se dizer que um texto com mais de 140 caracteres já começa a cansar. Isso, porém, só é verdade entre aqueles que acham que pelo Twitter é possível escrever até “Os Lusíadas”.
Acabo de participar como jurado de dois prêmios de jornalismo (o 10º Ayrton Senna e o 12º Embratel), e o que li, vi e ouvi desmente essa impressão de inferioridade da imprensa de hoje em relação à de ontem. Ao contrário, sob muitos aspectos ela aprimorou a prática de ir fundo nas coisas. Tanto em um quanto em outro concurso, houve mais de mil trabalhos inscritos apresentando níveis de excelência que em alguns casos chegaram a dificultar a escolha dos premiados.
Essas duas amostras autorizam a afirmar que não houve um acontecimento pertinente, um episódio importante da vida nacional nestes últimos meses que não tenha sido noticiado, ou mesmo revelado, por algum veículo ou por todos: jornal, revista, rádio, TV ou site de internet.
Pense no mensalão do DEM e outros escândalos, nos atos secretos do Senado, no vazamento da prova do Enem, na pedofilia, epidemia de crack, Aids, fraudes e corrupção. Isso para só falar das reportagens investigativas, sem contar as outras categorias, que incluem os temas esportivo, cultural, educacional, econômico, tecnológico e ambiental.
A imprensa atual pode até pecar por excesso, já que é acusada, por exemplo, de preferir o denuncismo e a violência. Mas não por omissão. Hoje, na mídia, nada se esconde, tudo se escancara, às vezes até demais.
Enfim um final feliz, coisa rara no mundo moderno, em que predomina a chamada Lei de Murphy: se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará da pior maneira, no pior momento e de modo a causar o maior estrago possível.
Quando se temia que algo de ruim acontecesse com a operação de salvamento dos mineiros chilenos, eis que ocorre o milagre e tudo terminou melhor do que se poderia desejar. O episódio deixou exemplos de disciplina, organização e solidariedade. E uma lição para o jornalismo. O interesse despertado pelo acontecimento mostrou aos que acham que notícia boa é notícia ruim que notícia boa pode ser... notícia boa.

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