sábado, outubro 16, 2010

Sangue derramado

Sangue derramado
RUY CASTRO – Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO - Em 1960, um faroeste, "O Álamo", dirigido, produzido e estrelado por John Wayne, foi candidato ao Oscar em sete categorias, entre elas a de melhor filme. Era um épico, com 3 sofridas horas e 12 minutos. Foi de quanto Wayne precisou para contar o que, para ele e para muitos de seus patrícios, era um episódio quase bíblico na história dos EUA - ideal para a Guerra Fria, então no auge.
O filme tratava da resistência de 184 colonos americanos no forte do Álamo, perto de San Antonio, em 1836, contra a investida das tropas do general Santa Anna para retomar o território mexicano do Texas, que os americanos queriam para eles. Apesar da colossal inferioridade numérica, os colonos levaram dias para ser massacrados, permitindo que o general Sam Houston armasse seu exército e, pouco depois, derrotasse Santa Anna, arrebatando o Texas para suas cores.
Wayne, que pusera dez anos de trabalho no filme, fez uma campanha agressiva para que "O Álamo" levasse todos os Oscars possíveis. Um de seus motes era o de que "o sangue derramado no Álamo" não podia ficar impune e quem não votasse em seu filme "não era patriota". Na verdade, Wayne precisava dos Oscars para salvar "O Álamo" na bilheteria - jogara nele toda a sua fortuna pessoal e o público não estava correspondendo.
Na cerimônia, "O Álamo" ganhou um único e mixérrimo Oscar: o de melhor som. Os eleitores ignoraram a política e preferiram votar na qualidade dos filmes. O campeão de estatuetas daquele ano foi, com méritos, "Se Meu Apartamento Falasse", a debochada comédia de Billy Wilder.
Os produtores de "Lula, O Filho do Brasil", candidato brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro, são experientes. Sabem que a estratégia de patriotismo usada para vender "Lula" no Brasil não funcionará em Hollywood. O Oscar ainda não foi aparelhado.

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