sábado, outubro 16, 2010

Saúde mental de mineiros é preocupação

Saúde mental de mineiros é preocupação
O Globo
Homens enfrentarão angústia e pesadelos. Ainda há dois no hospital
O mineiro boliviano Carlos Mamani atende a imprensa na porta de casa após chegar do hospital
COPIAPÓ, Chile. Os mineiros resgatados no Chile após mais de dois meses embaixo da terra enfrentarão tempos difíceis, com angústias, pesadelos e medo devido ao impacto emocional causado pelo acidente, segundo o ministro da Saúde, Jaime Mañalich. Apesar disso, o Hospital de Copiapó, onde os trabalhadores receberam atendimento médico, afirmou que a situação de todos é bastante satisfatória — apenas dois permaneceriam internados durante o fim de semana.
O hospital não forneceu nomes, mas segundo a imprensa local, Mario Sepúlveda e Víctor Zamora ainda precisariam, respectivamente, de tratamento antiestresse e dentário.
Ontem no início da tarde, 28 mineiros deixaram o hospital disfarçados, para evitar a multidão que se concentrava na porta do edifício. Sem os já famosos óculos escuros especiais, e trajando roupas comuns, os trabalhadores se misturaram à multidão e saíram à pé, conseguindo passar desapercebidos. Segundo Jorge Montes, subdiretor médico do hospital, os pacientes que apresentavam problemas respiratórios e oftalmológicos estavam com o quadro controlado, inclusive Mario Gómez, o mais velho do grupo, que foi diagnosticado com pneumonia aguda. Mas o ministro da Saúde, no entanto, se mostrou preocupado com o estado emocional dos operários.
— Estão ainda numa verdadeira montanha russa de emoções.
Muitos deles vão passar momentos extraordinariamente difíceis, e vão precisar de ajuda — disse Mañalich, no Hospital de Copiapó. — Vai ser difícil obter um relato coerente deles agora. Eles têm que decantar, sedimentar, terão angústias e pesadelos. que não voltem agora ao local O ministro descartou ainda a possibilidade de que os trabalhadores se recuperarem e m o c i o n a l m e n t e n o s próximos dias.
— Estamos entregando às famílias pessoas que estão frágeis.
Creio que é uma hipótese pouco provável pensar que daqui a uma semana esses homens vão levar uma vida normal e tranquila — afirmou.
Nenhum dos 33 participará da missa prevista para amanhã do lado de fora da mina San José. A governadora do Atacama, Ximenas Matas, explicou que alguns dos trabalhadores não se sentem prontos para regressar ao local.
— Precisamos considerar que eles estão indo para suas casas e querem ter um momento de tranquilidade — explicou, anunciando também um reforço da segurança próximo às casas dos mineiros que já tiveram alta, para evitar qualquer tipo de incidente.
Um retorno precipitado ao local é desaconselhado também por especialistas. O coordenador dos psicólogos da operação de resgate, Alberto Iturra, assinalou que, neste momento, “não é recomendável voltar à mina”: — Os mineiros devem ter uma certa paz e buscar os espaços de que precisam. Por isso, eu recomendo que não os leve tão rapidamente para lá.
Ainda assim, alguns homens do grupo reafirmaram ontem que querem voltar a trabalhar na mineração.
— Claro que vou voltar. Não temos nada a temer. É parte de nosso ofício — garantiu o mineiro Osmán Araya à TV estatal, falando do hospital.
O ministro da Saúde, no entanto, advertiu que, para muitos, não é recomendável voltar a trabalhar no setor.
— Para alguns o retorno é totalmente imprudente. Em alguns casos nos perguntamos o que faziam lá, já que tinham micoses e diabetes — disse Mañalich. Mineiro pede mais investimento em segurança Enquanto os mineiros voltavam para casa, socorristas que desceram os 650 metros para ajudar no resgate davam uma amostra do inferno vivido pelos 33 em 70 dias. Segundo Manuel González — o primeiro a entrar na mina e o último a sair — as condições do local eram precárias, e a temperatura e umidade, insuportáveis .
— Fiquei 25 horas lá embaixo, a uma temperatura de 40° C. Imagine o que é viver 70 dias nessas condições.
Havia uma umidade próxima de 100%. Para nós, foi impressionante — contou ao jornal “La Tercera”.
González lembra que a mina San José não tinha elementos básicos de segurança. Para ele, nenhum humano pode voltar a trabalhar naquela temperatura por 12 horas. O presidente Sebastián Piñera havia se comprometido, na quinta-feira, a garantir que nunca mais alguém trabalhasse “em condições tão inseguras e desumanas”.
Ao chegar em casa ontem, o mineiro Florencio Ávalos reforçou o pedido.
— Aos trabalhadores diria para terem cuidado — disse, exortando empresários do setor a investir mais em segurança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Skoob

BBC Brasil Atualidades

Visitantes

free counters