sábado, outubro 16, 2010

O risco do debate na base do contra ou a favor

O risco do debate na base do contra ou a favor
Candidatos estão mais interessados em deixar mal o rival do que em dizer o que pensam
Editorial, Jornal do Brasil
O processo eleitoral é um dos aspectos positivos, e tem como mérito a capacidade de mobilizar uma grande parte da população em torno da discussão dos grandes temas nacionais. Mas como nada é perfeito, há um problema: na verdade, os temas são quase sempre impregnados pela emoção da campanha e acabam sendo discutidos na perigosa base do achismo, do “sou contra” ou “sou a favor”.
A questão do casamento gay e, principalmente, a do aborto ficam inteiramente deslocadas quando inseridas em um simples bate-boca – só que de candidatos à Presidência – onde os protagonistas estão muito mais interessados em deixar o oponente em situação difícil com o eleitorado do que em mostrar o que de fato pensam sobre esses temas, ou que propostas têm a respeito deles.
Quando temas polêmicos e complexos são tratados em campanhas eleitorais, maior é a chance de o eleitor não conhecer o candidato. Não é possível tratar questões profundas como aborto – ou eutanásia, ou qualquer tema relativo à fé e religião – de modo superficial. É um grande engano achar que uma única pessoa pode decidir que rumos um país tomará com relação a esses temas. Primeiro, porque jamais se chegará a um consenso. Segundo, porque questões que resvalam em leis devem ser tratadas por um colegiado de especialistas, ouvindo as várias vertentes, quiçá convocando a população a um plebiscito.
Os debates eleitorais, nos moldes em que se dão hoje em dia, estão no mesmo campo de análise. Não dá para ninguém conhecer o que um candidato pensa com alguma profundidade em dois minutos, com mais um ou dois para réplica e tréplica. E nem dá para questionar muito o modelo, porque o debate hoje é um dos poucos meios para que o eleitor menos informado possa ter alguma luz para iniciar sua opção de voto.
Há de chegar um dia em que os eleitores tenham a capacidade de pesquisar o que o candidato já fez, sua trajetória na política ou na vida pública. De saber qual é a posição dos partidos sobre os principais temas. Para, então, não depender de migalhas de informação – “eu acho isso” ou “sou a favor disso” ou “a favor daquilo” – para se votar com consciência.

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