sábado, outubro 16, 2010

Dois irmãos

Dois irmãos
Marcelo Coelho – Folha de São Paulo
Cena do filme
A velhice, ou, se preferirmos, a madurez, está se tornando especialidade do cinema argentino, o que não é um fenômeno criticável por si mesmo. Dá ocasião a filmes sensíveis, algo melancólicos mas afinal de contas conciliadores, hábeis ao tratar de emoções em meio tom.
"Dois Irmãos", de Daniel Burman, tem bem esse espírito, pelo menos no encaminhamento geral do roteiro. Mas o espírito ameno contrasta com a caracterização das personagens principais. Antonio Gasalla e Graciela Borges vivem o par, nada fraternal, do título. Ela é uma arrivista trambiqueira, que oprime e explora o irmão, sujeito tímido e passivo, que com seus sessenta anos se dedica a cuidar da mãe doente.
Tem-se a impressão de que o filme tenta transpor, sem muitos desastres, alguma peça de teatro que terá servido como veículo para o talento inegável dos dois atores principais. No palco, a presença de Graciela Borges, com seus figurinos impagáveis e mesquinharias espantosas, serviria àquela função, tão necessária ao público, da personagem que se gostaria de esganar ao vivo.
Espera-se o tempo todo a reação, o grande momento explosivo pelo qual Antonio Gasalla haverá de dizer à irmã “um monte de verdades”. O teatro pode viver dessa tensão - como é, vai ter briga ou não vai ter?—sem que as personagens precisem se transformar muito ao longo da peça.
No cinema, isso funciona menos: as tiradas repetidas, as cenas mais ou menos equivalentes que se sucedem, não contam com aquele espaço vazio, aquele oco, aquele intervalo de ar que existe entre o público e os atores. A película “adere” mais ao rosto dos atores, o cenário é mais fluido, há menos máscara e mais interiorização. O talento de Gasalla e Graciela Borges não deixa margem a dúvidas; mas não constitui um triunfo, e o filme inspira mais carinho do que admiração.

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