sábado, outubro 16, 2010

O governo está uma bagunça Por Villas-Bôas Corrêa – Jornal do Brasil Online

O governo está uma bagunça
Por Villas-Bôas Corrêa – Jornal do Brasil Online
A última pesquisa do Ibope confirma a liderança de Dilma nesta reta final do segundo turno que leva às urnas de 31 deste mês, pela escassa diferença de seis pontos de vantagem sobre José Serra – 49% contra 43%. É uma vantagem significativa, embora escassa. Com a migração de 3% para o tucano, batemos de testa no virtual empate.
Restam ainda três ou quatro debates previstos nas redes de TV. Mas a lição da estreia na TV Bandeirantes está longe de comprovar a eficiência do bate-boca, com normas rígidas que descaracterizam o confronto de propostas e de críticas. E poucos, em porcentagem ínfima, têm paciência para perder horas de sono e despertar com o cantar dos galos.
Debates são espetáculos para auditórios vazios. E nesta reta final e decisiva, Dilma e José Serra precisam ajustar os seus esquemas, com a análise do primeiro turno. Atentos aos 20 milhões de votos do Partido Verde, da acreana Marina Silva, no primeiro turno, que ainda aguardam a decisão do partido. Mas, com a óbvia tendência da presidente e candidata no primeiro turno de não votar na candidata do presidente Lula.
São especulações que serão testadas nas urnas. Ou nas próximas pesquisas.
O presidente Lula andou sumido nos últimos dias e voltou com a urgência de salvador da sua candidata. Até lá, talvez possa atender à curiosidade de eventuais leitores uma análise sobre a arte de governar, com os exemplos da nossa história.
Vamos lá. Governar é despachar papéis, ensinava o meu saudoso amigo Prudente de Morais Neto, o Pedro Dantas, que foi um republicano com luminosa carreira na imprensa, comentarista político em vários jornais que já fecharam as portas, como O Diário Carioca e o Diário de Notícias.
É a mesma lição que se recolhe do Diário de Getulio Vargas, salvo do lixo pela diligência da sua neta, Celina Vargas, que encontrou os 13 cadernos esquecidos no fundo do armário no gabinete presidencial do Palácio do Catete, depois publicado com o capricho e a competência da historiadora de impecável ética. Sem cortes, na íntegra, incluindo os surpreendentes desabafos de sua paixão pela bela francesa Aimée de Haren, que durou pouco – de 17 de abril de 1937, “uma ocorrência sentimental de transbordante alegria” a 31 de janeiro de 1938 – “quando a amada não partiu, ficou para o dia seguinte e fui à noite despedir-me”.
Além do incandescente caso de amor, o Diário de Getulio registra a sua dedicação ao trabalho, da manhã até altas horas da madrugada, despachando processos, até o último da pilha.
Todo este passeio pela história vem a propósito da paralisação do governo Lula, justificada pelo segundo turno. Gavetas e armários do luxuoso gabinete presidencial no Palácio guardam o papelório acumulado, à espera que o presidente Lula encontre alguns minutos para assinar papéis, que não lê para não ter azia.
O que sobrar fará parte da herança do sucessor ou sucessora. E que reclamam urgência. Como o Orçamento para 2011, o aumento do salário mínimo que passará a vigor a partir de 1º de janeiro. No pior Congresso de todos os tempos – e que deve perder a liderança para o próximo, que se gratificou com a extensão do recesso branco parlamentar até o início de novembro – dorme o sono da irresponsabilidade o reajuste do salário mínimo, que terá que ser assinado pelo presidente Lula. As normas das boas maneiras recomendam que o presidente consulte o seu sucessor ou sucessora.
O governo não se afoba. O seu vice-líder no Congresso, deputado Gilmar Machado (PT-SP), teoricamente responsável pelas articulações do Orçamento, não tem nenhuma pressa. Avisa ao distinto público que só vai cuidar de tal maçada depois das eleições. Desculpa-se: é preciso considerar a questão do salário mínimo e dos aposentados. O que não se discute em pé, mas numa poltrona fofa. Para que ter pressa?

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