terça-feira, outubro 12, 2010

Diretor israelense Amos Gitai defende o modelo francês de fazer cinema

Diretor israelense Amos Gitai defende o modelo francês de fazer cinema
Mario Abbade - Especial para o Correio Braziliense
 Rio de Janeiro — O cineasta israelense Amos Gitai ganhou uma retrospectiva no Festival do Rio, encerrado na última quinta-feira. Sua obra provoca reflexões sobre questões como a guerra (Kippur — O dia do perdão), a opressão da mulher pela religião tradicional (Kadosh — Laços sagrados), a política ideológica (Berlim-Jerusalém e Kedma) e o embate da relação do indivíduo entre a família e o estado (Alila), entre outros assuntos ligados a Israel. O cineasta é um defensor dos conceitos da política de esquerda e, fora dessa conjuntura, seus filmes abordam as relações humanas dentro de um contexto sociológico. Gitai conversou com o Correio Braziliense e não se furtou em abordar vários assuntos de maneira contundente sobre cinema, atores, festivais e a internet, chegando a criticar o modo de se fazer filmes em Hollywood, contrastando com os elogios aos objetivos dos franceses. Uma de suas certezas é seu amor pelo Brasil.
"O cinema deve fugir das mesmices"
Arquitetura Eu acredito que ter estudado outro tema (sua formação profissional é arquiteto) que não seja cinema, ajuda na realização de um filme. É uma maneira de expandir sua visão. Assim você pode inserir a sua experiência em um outro campo profissional.
Holocausto Infelizmente existem pessoas e presidentes de outras nações que duvidam do holocausto. É um absurdo. Se você legitima esse tipo de discurso, é legitimar um discurso fascista. Não tem como negar essa imensa tragédia mundial.
Prêmio Acho o prêmio Leopardo de Honra no Festival de Locarno em 2008 um objeto bastante bonito e gosto de colocá-lo em meu colo enquanto o acaricio (risos). Festivais são importantes, pois é uma forma de distribuição. Fiquei muito feliz com as retrospectivas no Brasil. É uma maneira do público assistir algo diferente dos típicos blockbusters. Os festivais são necessários e uma forma do público conhecer algo diferente em relação ao cinema comercial.
Influências Minha formação é na arquitetura e quando jovem minha família não ia muito ao cinema. Éramos mais adeptos a música e exposições. O cinema nunca foi muito popular na minha casa. Já na faculdade assisti aos mestres europeus como Federico Fellini, Ingmar Bergman e Roberto Rossellini, entre outros. E quando comecei a fazer filmes, comecei a descobrir outras escolas de pensamento. É interessante que não estudei cinema em uma universidade. Quando me convidam para dar uma aula ou uma palestra em uma escola de cinema, ao ser perguntado qual a melhor maneira de fazer cinema, aconselhei estudar arquitetura (risos). Acho que todas as escolas de cinema repetem as mesmas coisas. E o cinema deve fugir das mesmices.
Cinema brasileiro Eu adoro o Cinema Novo. Os filmes do Glauber Rocha e do Nelson Pereira dos Santos. Sou muito amigo do Walter Salles e também gosto de seus filmes. O resto sou um total ignorante (risos). Muitos cineastas assistem a vários filmes. Eu não sou adepto a essa prática.
Ficção ou documentário? Eu adoro ambos. Depende do material que origina o projeto.
Site na internet Não gosto dessas mídias sociais. Eu luto contra essa invasão de informação decorrente da internet. Acho preocupante as pessoas terem a necessidade de sempre estarem conectadas a algo. Eu gosto de olhar as pessoas nos olhos quando converso. Tenho pessoas que cuidam do meu site e dos meus e-mails. Quando acham que é algo interessante, me repassam.
França A França é o único país no mundo que não está preocupada em desenvolver seu próprio cinema, mas também o cinema feito em outros países. Isso é muito raro. Existem países que defendem exclusivamente seu próprio cinema. Israel e a Itália são exemplos. Os franceses são excepcionais, pois defendem os cinema de outras partes do mundo. Um outro modelo é dos americanos: “Venha para a Los Angeles fazer filmes americanos”. Alguns profissionais acreditam que isso é uma forma de se chegar ao topo. Eu não partilho desse pensamento. Existem ótimos filmes americanos, mas para mim isso não é chegar ao topo. Por sinal, cada vez mais tem menos filmes americanos interessantes. A proposta dos franceses é divulgar a cultura de outros povos.
Brasil Eu amo o Brasil. É um país muito interessante e poderoso em um sentido moderno. E a modernidade que me refiro é sobre a formação da nação sem um sentimento racista. Pessoas oriundas da África, Portugal, Alemanha, Líbano, entre outras dezenas de nações, fora os nativos e os judeus. Isso é um conceito de modernidade em que o elemento humano é o que importa. Uma característica muito difícil, que no Brasil é comum.
Pesquisas Sim, sempre pesquiso para meus projetos. Posso citar Terra prometida, na qual conversamos muito sobre os direitos humanos. É importante ter conhecimento sobre o assunto que vai ser retratado.
Crítica Isso é legitimo. Não é uma questão de se importar, mas é ótimo quando um crítico o auxilia a entender aquilo que você fez. Quando eles articulam seu trabalho, é interessante. É estimulante receber cumprimentos como também as vaias. Mas isso não é o assunto principal de um filme.
DVDs Eu não gosto de participar dos DVDs dos meus filmes, na faixa de comentários. Acho que o filme deve ser o seu único comentário.
Improvisação Eu não gosto de improvisações, mas deixo meus atores contribuírem. Eu entrego o roteiro e debatemos, antes de iniciar as filmagens.

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