terça-feira, outubro 12, 2010

Enfim, células embrionárias em teste

Enfim, células embrionárias em teste
Primeira experiência com seres humanos começa nos EUA
Renato Grandelle – O Globo
 Um experimento histórico acaba de sair do papel. A Geron Corp, única empresa com aval do governo americano para testar terapias de células-tronco embrionárias em seres humanos, anunciou o início da primeira experiência clínica com o material em um paciente.
O teste, inédito em seres humanos, vem sendo apontado como um marco, que pode revolucionar a história da medicina.
A única informação divulgada sobre o paciente é de que se trata de um portador de lesão recente na medula espinhal, ocorrida há, no máximo, duas semanas. A Geron investiu, em pouco mais de uma década, US$ 170 milhões no uso de célulastronco embrionárias em lesões na medula.
Antes de ser levado a humanos, centenas de ratos paralíticos foram submetidos ao experimento. Alguns conseguiram recuperar parcialmente os movimentos.
As células usadas, provenientes de embriões humanos excedentes de tratamentos de fertilidade, foram manipuladas para se tornarem precursoras de certos tipos de células nervosas. No teste clínico, dois milhões de células serão injetadas diretamente na medula espinhal do paciente. Os pesquisadores esperam que elas lancem compostos que contribuam para a regeneração de nervos danificados. Dez pessoas participarão do teste. As outras nove ainda não foram selecionadas.
O experimento será realizado no Shepherd Center, em Atlanta, dedicado a lesões cerebrais e de medula espinhal. Além da instituição, outros sete centros dos EUA participam da pesquisa.
Os testes clínicos não têm como objetivo a cura dos participantes, mas sim averiguar o quanto é seguro aplicar células-tronco embrionárias na medula. “Quando começamos a trabalhar com células-tronco embrionárias humanas, em 1999, muitos previram que demoraria décadas até que a terapia celular fosse aprovada para testes clínicos em pessoas”, lembrou o presidente da Geron, Thomas Okarma, em comunicado divulgado à imprensa.
As lesões de medula espinhal são consideradas extremamente imprevisíveis. Em alguns casos, os pacientes costumam melhorar por conta própria, o que dificulta a avaliação de qual teria sido o efeito da injeção de células.
Alguns pesquisadores temem que os riscos da terapia piorem as condições dos pacientes, fazendo com que paralisias parciais progridam para o corpo inteiro.
As empresas envolvidas no tratamento, porém, estão confiantes. Okarma assegura que, mesmo havendo alguma reação inesperada, as células injetadas não abandonam o local da lesão, o que protegeria os pacientes de efeitos adversos.
O teste clínico no Shepherd Center é um “fato histórico”, segundo Tatiana Coelho Sampaio, coordenadora do Programa de Bioengenharia do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.
— É uma técnica revolucionária — ressalta.
— As células-tronco embrionárias já terão sido diferenciadas em laboratório. Certamente existe um risco, mas o paciente que vai se submeter a isso será devidamente alertado de que se trata de um tratamento experimental. É um trabalho planejado há mais de dez anos e que tem passado por diversos controles para minimizar qualquer adversidade. Outra novidade é que o tratamento será feito de forma aguda, ou seja, com injeção diretamente na medula. Essa iniciativa abre uma nova janela de pesquisas, já que, hoje, a maioria dos tratamentos para esta lesão não tem intervenção local.
A Geron Corp conseguiu, em julho, a primeira licença expedida pelo FDA (Administração de Drogas e Alimentos dos EUA) para usar células-tronco embrionárias humanas em testes clínicos.
Sua pesquisa é voltada para lesões de medula espinhal, um problema que atinge 12 mil pessoas por ano nos EUA. As causas mais comum são acidentes de carro, quedas, ferimentos provocados por tiros ou pela prática de esportes.
Todo o estudo da empresa foi conduzido com verbas próprias; a Geron, portanto, não está sujeita a limitações de fundos federais. É uma vantagem considerável, dada a batalha jurídica enfrentada pela Casa Branca por causa das células-tronco.
Logo que assumiu a Presidência, no início do ano passado, Barack Obama baixou uma ordem executiva facilitando o financiamento público de pesquisas com o material. A iniciativa provocou a ira dos opositores ao uso de embriões humanos na produção destas células. Dois pesquisadores chegaram a processar os Institutos Nacionais de Saúde, mas uma corte federal de apelações aceitou que os investimentos continuassem liberados até que o caso seja julgado.
Além da Geron, uma outra empresa, a Advanced Cell Technology (ACT), está próxima de conseguir aval do FDA para realizar pesquisas com células-tronco embrionárias humanas.
O foco, no entanto, seria diferente: as células da ACT seriam manipuladas para converterem-se em células da retina. A companhia quer permissão para realizar testes clínicos em pacientes com distrofia macular de Stargardt, uma doença genética ocular que provoca a redução progressiva da visão, podendo resultar em cegueira.

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