sexta-feira, outubro 08, 2010

FMI quer solução conjunta para guerra cambial

FMI quer solução conjunta para guerra cambial
Strauss-Kahn afirma ao "Le Monde" que "baixo valor do yuan está na raiz das tensões da economia mundial"
Fernando Eichenberg* - O Globo
 O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, defendeu ontem medidas para que se encontre uma solução coordenada para acabar com a atual "guerra cambial", em que a China é acusada de produzir um efeito dominó ao manter sua moeda, o yuan, artificialmente desvalorizada frente ao dólar. No mês passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, dissera haver uma guerra cambial no mundo.
- Eu mesmo tenho usado esse termo (guerra cambial), que é talvez demasiado militar, mas é verdade dizer que muitos consideram sua moeda uma arma, e isso não é certamente bom para a economia mundial - disse Strauss-Kahn na abertura do encontro anual de FMI e Banco Mundial (Bird), em Washington.
Para Stiglitz, EUA fazem "desvalorização competitiva"
O diretor do Fundo sublinhou que "não há solução doméstica" para a crise e reafirmou a necessidade de iniciativas internacionais conjuntas para consolidar a retomada do crescimento econômico. Perguntado sobre as exigências da China em ter maior poder decisório no FMI e, ao mesmo tempo, agir de forma unilateral contra os interesses da estabilidade econômica mundial, Strauss-Kahn respondeu:
- Mais os mercados emergentes terão voz e representação no Fundo, mais terão responsabilidade na estabilidade do sistema. Estar no centro do sistema requer mais responsabilidade em relação ao que se faz e às consequências do que se faz na economia global.
Em entrevista ao jornal francês "Le Monde", o número um do FMI foi bem mais direto. "O baixo valor do yuan está na raiz das tensões da economia mundial que estão se transformando em ameaças. Se quisermos evitar a criação de condições para uma nova crise, a China precisa acelerar o processo de valorização da moeda".
Strauss-Kahn, no entanto, descartou uma reprise do Acordo de Plaza, fechado em 1985 por Japão, Alemanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos para desvalorizar o dólar. Ele afirmou que a recuperação econômica mundial ainda é "muito frágil", principalmente em Europa e EUA, e destacou o forte crescimento registrado em países da América do Sul e da Ásia, regiões em que "a crise acabou". Mas ele não acredita na possibilidade de uma nova recessão.
Mas nem todos concordam com o FMI. O prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz afirmou que os EUA têm sua parcela de culpa, revelou em seu blog Chrystia Freeland, editora da Reuters. Em evento promovido pelo consulado do Canadá em Nova York na noite de quarta-feira, ele disse que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) promove uma "desvalorização competitiva" do câmbio.
"Nós dizemos, "Não estamos engajados em uma desvalorização competitiva. Isso é o que a China faz. Não manipulamos nossa moeda. Tudo o que fazemos é política monetária comum". Mas a consequência da política monetária comum é a desvalorização competitiva", afirmou Stiglitz.
Já o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick, disse que os líderes mundiais precisam acalmar as tensões globais - o que inclui o problema do câmbio - para evitar uma repetição dos erros da Grande Depressão.
- Se cairmos em um conflito ou em formas de protecionismo, corremos o risco de repetir os erros da década de 1930 - afirmou Zoellick.
Número 2 do Fundo elogia Brasil e receita ajuste fiscal
Strauss-Kahn ainda voltou a defender um tipo de taxação sobre o sistema financeiro, que alimentaria um fundo de socorro para futuras crises mundiais. E se disse otimista sobre a possibilidade de se chegar a um acordo, até janeiro de 2011, em relação à reforma das cotas de representação dos membros do FMI. Ele acredita que pelo menos 5% das cotas dos países ricos sejam transferidas para os emergentes.
O vice-diretor-gerente do FMI, John Lipsky, por sua vez, elogiou o desempenho da economia brasileira, mas recomendou maior controle dos gastos públicos e ajustes fiscais:
- Este é um momento muito favorável para a economia brasileira e para as novas autoridades brasileiras aproveitarem para estabelecer as bases de um crescimento forte e sustentável.
Para o representante brasileiro no Bird, Rogério Studart, enquanto não houver uma solução coordenada para tratar dos efeitos da crise - como o fluxo de capital e a tensão cambial -, os países terão de tomar medidas individuais:
- O que não é o ideal. Mas se não tivéssemos tomado medidas, poderia ser pior. Enquanto não houver uma solução coordenada, cabe às economias nacionais tomarem medidas necessárias. E cabe aos órgãos internacionais apoiarem os países na proteção dos seus interesses.

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