Freixico: a dupla dinâmica do PSOL

Freixico: a dupla dinâmica do PSOL

Com quase 420 mil votos, Marcelo Freixo e Chico Alencar carregam o peso da popularidade

Paulo Marcio Vaz – Jornal do Brasil

Marcelo Freixo

O candidato à Presidência pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Plínio de Arruda Sampaio, não chegou a 1% dos votos válidos em 3 de outubro, mesmo roubando a cena durante os debates na TV, junto aos tubarões Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB). Plínio estava lá graças à pequena representação de seu partido no Congresso, onde o Senador (suplente) José Nery (PA) e três deputados federais Luciana Genro (RS), Ivan Valente (SP) e Chico Alencar (RJ) lhe garantiram o direito de ir a todos os debates e arrebatar, se não o voto, a simpatia dos eleitores. Valente foi reeleito, mas Luciana, não. E a grande aposta para o Senado, Heloísa Helena (AL), principal nome nacional do PSOL, também foi derrotada e não volta a Brasília. Entre os estados com mais peso político, foi o Rio quem salvou a pátria socialista: Chico Alencar obteve mais de 240 mil votos, e o deputado estadual Marcelo Freixo aparece como a mais nova liderança regional, voltando à Assembleia Legislativa com o aval de quase 180 mil eleitores. O sucesso no Rio da dupla Freixico agora carrega nos ombros a inevitável responsabilidade de fazer o partido continuar crescendo. Aqui e em Brasília.

Chico Alencar

Com sua votação, Chico levou de carona para a Câmara o ex-BBB Jean Wyllys (13.018 votos). Freixo também deu carona para a agora colega na Alerj Janira Rocha (6.442 votos). O deputado estadual atropelou nomes como o do ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc (PT), da filha do casal garotinho Clarissa (PR) e da veterana deputada e jornalista Cidinha Campos (PDT), todos reeleitos com menos votos que os 177.253 do professor de história em Niterói. Freixo só não superou o fenômeno Wagner Montes (PDT), famoso apresentador de TV e imbatível na corrida à Alerj.

Prefeitura em 2012

Nossa maior alegria se deu no Rio, diz o PSOL em seu site. Além dos planos para 2011, discute-se nos bastidores quais seriam os próximos passos da dupla fluminense nas eleições de 2012 e 2014. Sobre seu futuro, Freixo não se recusa a responder, mas costuma se incomodar com a pergunta cada vez mais frequente: Você pensa em se candidatar a prefeito de Niterói?.

Isto é uma possibilidade natural admite o deputado. Sou de Niterói e tive uma boa votação na cidade. Mas é preciso haver uma discussão dentro do partido, até porque, tenho muitos votos também em outras regiões do estado.

A possibilidade de a nova estrela do PSOL fluminense virar prefeito ganhou força nos bastidores políticos, principalmente a partir das consequências da tragédia que se abateu com as chuvas de abril sobre Niterói, mais famosa agora por abrigar o trágico Morro do Bumba que as suntuosas obras de Oscar Niemeyer. O cacife político adquirido como de-putado mais uma possível eleição para a prefeitura, seguida de uma boa gestão, poderiam ser ingredientes para voos políticos ainda mais altos de Freixo no Rio ou até mesmo em Brasília, o que fortaleceria o PSOL nacionalmente. Enquanto 2012 não chega, Freixo segue na Alerj, mas com outra postura:

Uma coisa é chegar com 13 mil votos, no meu primeiro mandato. Outra é voltar com 177.253 analisa o deputado, cujo nome foi citado como referência na campanha eleitoral até por rivais de peso, como o então candidato a governador Sérgio Cabral, agora reeleito.

Uma votação como essa, certamente cria nova referência e abre mais espaço conclui Freixo.

Trajetória

O sucesso do deputado se deve, principalmente, ao fato de ele ter contribuído para colocar na cadeia nomes como o do ex-secretário de Segurança Pública Álvaro Lins e do miliciano Natalino Guimarães ambos ex-parlamentares da Alerj além de Jerominho Guimarães, ex-vereador e irmão de Natalino. Jurado de morte, Freixo anda escoltado, dia e noite, por policiais muito bem armados.

Partido amarga derrotas no Sul e no Nordeste

Chico Alencar foi um dos grandes apoiadores e cabos eleitorais de Freixo no Rio. A partir do ano que vem, ele conta, em Brasília, com bancada pouco expressiva, mas uma grande banca: acaba de ser escolhido por jornalistas como o melhor deputado de 2010, em eleição feita pelo site Congresso em Foco. Com o título e as derrotas de Luciana Genro no Sul, e Heloísa Helena no Nordeste, Chico terá como companheiro na Câmara o reeleito Ivan Valente e o novato Jean Wyllys. No Senado, os iniciantes Randolfe (AP) e Marinor Brito (PA). E só. O parlamentar carioca admite o aumento do peso nas costas:

Sem dúvida, a responsabilidade aumentou, até porque o peso político é aferido pela votação que se recebe avalia Chico. Nossa pequena bancada vai ter que se desdobrar. As perdas de Heloísa Helena e Luciana Genro foram duras, e não me considero capaz de substituí- las. Sou um político mediano.

Propostas

Para 2011, Chico Alencar planeja combinar, na Câmara, seu lado fiscalizador com o propositor:

O aspecto propositor se agrupa com o fato de o Rio passar a receber muitos investimentos por causa das competições esportivas (Copa 2014 e Olimpíada 2016). Se não faturamos a Copa em 2010, não podemos superfaturar a de 2014 ironiza. Sobre propostas, é importante que se faça a reforma política, e vamos buscar um projeto de iniciativa popular nesse sentido.

Em relação ao futuro do PSOL, tanto Chico como Freixo admitem que o partido cresce lentamente, principalmente por causa do estilo de se fazer campanha: O crescimento é lento admite Freixo. Isso é fruto de nossa opção. Não temos condições de fazer campanhas caras, já que não aceitamos doações de empresários donos de concessões públicas, ao contrário do que fazem outros partidos. Além disso, não pagamos cabos eleitorais. Toda a nossa militância é voluntária.

Sobre projetos para o próximo mandato na Alerj, Marcelo Freixo quer viabilizar a CPI da Saúde, para apurar suspeitas de irregularidades na pasta, principalmente relacionada a compras de remédios, e propõe a criação de uma comissão de fiscalização dos royalties do petróleo.

Precisamos também fortalecer os movimentos sociais. É uma demanda que observei durante a campanha completa o deputado.

A reeleição de Freixo para a Alerj era mais desejada dentro do PSOL que a do próprio Chico para a Câmara. Por ter denunciado e contribuído para a condenação e prisão de políticos milicianos, o deputado só pode andar escoltado por policiais enquanto tiver mandato.