sexta-feira, outubro 08, 2010

Pressão sobre a China

Pressão sobre a China
Celso Ming - O Estado de S. Paulo - 08/10/2010
As pressões sobre a China estão cada vez mais fortes. Anteontem fora o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner. Ontem foi a vez do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e do vice-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), John Lipsky, baterem por uma forte revalorização do yuan, a moeda chinesa.
Os Estados Unidos insinuam que a atual política da China não passa de manipulação cambial. Dois dos mais lidos analistas internacionais, Paul Krugman, do New York Times, e Martin Wolf, do Financial Times, também sustentam que é isso mesmo, é pura manipulação passível de punição, como se fosse um jogo sujo comercial qualquer. "Se investir metade do produto bruto do país em reservas não for manipulação do câmbio, então o que é?", escreveu Wolf anteontem.
Manipulação é uma expressão com forte conotação política, cujo objetivo é aplicação de represálias. Pela argumentação de Martin Wolf, Japão, Suíça, Índia, Japão e Brasil também estão manipulando seu câmbio, porque estão empilhando reservas. E, por outros critérios, o comentarista do New York Times Anatole Kaletsky avisou que manipulação é coisa que faz parte da política cambial, tanto que o presidente americano Ronald Reagan manipulou o câmbio quando fechou o acordo de Plaza, em 1985, que desvalorizou o dólar, e o acordo do Louvre, que em 1987 pôs um fim na desvalorização.
O fato é que a China não faz outra coisa senão colocar em prática, desde a década de 70, a política de seus interesses. Até recentemente, todos os governos, especialmente os dos países ricos, saudavam a disposição de Pequim em seguir comprando títulos do Tesouro dos Estados Unidos e, assim, de contribuir para a derrubada da inflação global.
No âmbito do Bank for International Settlements (BIS), que opera como banco central dos bancos centrais, a política cambial chinesa foi amplamente sabatinada pelos maiores entendidos do assunto do mundo. A China sempre argumentou que pratica um câmbio administrado por meio da compra de todo excesso de moeda estrangeira que pudesse derrubar a cotação do yuan em dólares. Repisa que essas compras são feitas com poupança do povo chinês, que é de 51% do PIB, o que lhe dá condições de esterilizar (por meio de lançamento de títulos) todo volume de moeda nacional usado para adquirir dólares, ou seja, a execução de sua política não produz inflação.
Até agora, nenhuma sumidade em política monetária conseguiu apontar procedimento tecnicamente condenável por parte da China. O que dizem muitas delas é que, a longo prazo, essa atitude não convém à China porque vai matar seu mercado externo. Mas, decididamente, não é o que pensam as autoridades chinesas do alto dos seus US$ 2,5 trilhões em reservas externas. É mais fácil sustentar que o país não está disposto, neste momento, a fazer o jogo das grandes potências. Nem estas parecem à vontade para levar as ameaças de represália às últimas consequências.

Em todo o caso, a questão de fundo não é técnica; é política. Está em saber até quando o governo da China vai suportar as pressões. E até que ponto as autoridades do Ocidente serão capazes de assistir à prostração de suas economias e ao aumento do desemprego sem decretar uma guerra, comercial ou financeira, contra as políticas de Pequim, focadas na exportação de manufaturados.
Confira
A esticada de setembro Precisa acontecer algo muito fora do padrão para que a inflação deste ano escape da meta de 4,5% e exija ação contundente do Banco Central por meio de sua política de juros.
Selic parada O esticão de setembro ainda vai aparecer nos próximos dois ou três meses, mas é improvável que a disparada dos preços dos alimentos, que começou com a alta do trigo, se mantenha por mais tempo. O Banco Central deverá manter até o final deste ano o atual nível dos juros básicos (Selic), de 10,75% ao ano.

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