sexta-feira, outubro 08, 2010
ORIENTE MÉDIO Diálogo na berlinda
ORIENTE MÉDIO
Diálogo na berlinda
Líderes palestinos se reúnem hoje com representantes da Liga Árabe para decidir se mantêm negociação com Israel, após a retomada da construção de vários assentamentos judaicos
Isabel Fleck – Correio Braziliense
O diálogo direto entre palestinos e israelenses, reiniciado há pouco mais de um mês, passará hoje por mais uma prova de fogo. Desta vez, o lado palestino decidirá, com a ajuda dos outros 21 integrantes da Liga Árabe, se mantém ou não as conversas com Israel. O governo do premiê Benjamin Netanyahu insiste em não estender a moratória sobre as construções em assentamentos judaicos. Às vésperas do encontro, que ocorre na Líbia, negociadores palestinos deram sinais dúbios sobre as reais possibilidades de prosseguir com as conversas de paz, apesar da unanimidade em colocar o congelamento da expansão das colônias como condição inquestionável. Enquanto um deles considerou aceitar a proposta dos Estados Unidos de continuar o diálogo mediante uma moratória de mais dois meses — que ainda teria que ser aceita por Israel —, outro disse ser “impossível” chegar a qualquer acordo com o Estado de Israel.
“Não haverá um processo de paz real e sério enquanto houver esse governo de Netanyahu. Esse governo não é sério sobre suas intenções de alcançar a paz na região”, disse Yasser Abed Rabbo, assessor do presidente palestino, Mahmud Abbas, e integrante da equipe de negociadores. Segundo ele, a decisão de Nentanyahu de não manter a moratória sobre as construções nas colônias mostra as reais intenções de seu governo no processo de paz. “(Netanyahu) está sempre falando de paz, mas, na verdade, está colocando todos os obstáculos para um real progresso”, disse Rabbo. A posição do assessor, segundo um alto funcionário da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), é compartilhada por toda a liderança palestina.
Nabil Shaath, chanceler do partido Fatah e negociador palestino, disse que seu governo está “aberto” à proposta americana, que prevê um congelamento das colônias por mais dois meses. Mas esclareceu que os palestinos não vão aceitar “nada menos do que a completa parada das atividades nos assentamentos”. Segundo o embaixador da Autoridade Palestina no Brasil, Ibrahim Al-Zeben, essa é a mensagem que seu governo levará às outras lideranças árabes hoje. “O único caminho é paralisar a colonização e começar a negociar. Não há uma terceira via. Israel tem que mostrar sua boa vontade, e para isso, precisa parar as construções que comprometem o território do futuro Estado Palestino”, disse o embaixador ao Correio. “Nós esperamos o apoio da comunidade dos países árabes à posição palestina de que não podemos continuar negociando com esse processo de colonização.”
Al-Zeben afirmou acreditar que é possível conversar com o governo de Netanyahu, ao contrário do que defendeu um dos negociadores. “Não somos nós que escolhemos o primeiro-ministro e o gabinete de Israel, são os próprios israelenses. Esperamos ter como adversário alguém disposto a negociar”, afirmou. Netanyahu jogou para os palestinos a responsabilidade de um fracasso nas conversas. “A pergunta precisa ser feita aos palestinos: por que vocês estão abandonando o diálogo?”, declarou. “Não virem suas costas.”
Ontem, o embaixador israelense em Washington, Michael Oren, afirmou que os EUA ofereceram a Israel incentivos em troca da extensão da moratória. “O governo dirigiu-se mais uma vez a Israel com uma quantidade de incentivos”, afirmou. Segundo Oren, seu governo vai esperar a decisão da Liga Árabe.
Obras avançam
Enquanto as lideranças discutem a condição colocada como fundamental para os palestinos, os colonos judeus já iniciaram a construção de 350 casas e apartamentos em assentamentos na Cisjordânia (veja o mapa), desde o fim da moratória, em 25 de setembro. Segundo o jornal israelense Haaretz, em colônias como a de Karmei Tsur, na região de Gush Etzion, já tiveram início as escavações para a construção de prédios que abrigarão 56 apartamentos. Em Kedumim, o mesmo número de casas está sendo erguido. “As construções na Judeia e na Samaria estão voltando ao normal. Depois de 10 meses prejudiciais, que não trouxeram nada de bom a ninguém, estamos voltando à rotina”, assegurou Daniel Dayan, presidente do Conselho Yesha, que representa os colonos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário